Dislexia infantil: sinais, tratamentos e desafios escolares

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Atualizado em 21/10/2024


“Essa criança é preguiçosa”, “Ele só dá trabalho na sala de aula”, “Ela não consegue se concentrar.” Essas são algumas das frases mais ouvidas - e até ditas - por alguns pais e professores de crianças com dislexia infantil


Apesar de ser comum, a dislexia infantil, quando mal interpretada, pode ser prejudicial para a criança que apresenta a condição, causando baixa autoestima e levando até mesmo a depressão. 




Para desmistificar algumas questões sobre a dislexia infantil, conversamos com a fonoaudióloga Luciane Moretto, que explicou sobre os sintomas mais comuns e os desafios em torno da dislexia na educação infantil.


Neste artigo você vai ver: 

  • O que é a dislexia infantil?

  • Como identificar dislexia na educação infantil? 

  • Quais os tipos de dislexia infantil?

  • Qual a idade ideal para diagnóstico de dislexia?

  • Qual o tratamento para dislexia infantil?

  • Quais as atividades que estimulam as crianças com dislexia?

O que é a dislexia infantil?

A dislexia infantil é um transtorno de aprendizagem que afeta a capacidade da criança de reconhecer e relacionar letras e sons, dificultando a leitura e a escrita. Isso ocorre devido a um processamento neurológico específico, que compromete a associação entre o grafismo das letras e os sons correspondentes.

“Ela não entende, por exemplo, que a letra ‘E’ tem três perninhas”, explica a fonoaudióloga Luciane Moretto. “Não é uma questão visual, mas sim de processamento neurológico.” Sendo assim, a dislexia infantil pode ser classificada como um distúrbio de aprendizagem verbal.

Crianças com dislexia infantil possuem visão e inteligência normais, mas enfrentam desafios específicos com a leitura e interpretação de símbolos escritos. A condição costuma ser identificada na fase de alfabetização, quando a dificuldade em associar letras a fonemas se torna mais evidente.

Embora seja um distúrbio crônico, sem cura, a dislexia infantil pode ser gerenciada por meio de acompanhamento adequado. De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), entre 5% e 17% da população mundial convive com essa condição.

Como identificar dislexia na educação infantil? 

O transtorno pode ser inicialmente identificado tanto pelos responsáveis quanto pelos professores e as características da dislexia na educação infantil mais comuns são:


  • Desatenção;

  • Dificuldade em estabelecer relação do som com o símbolo;

  • Inversões de letras, como “D” e “T”;

  • Confusão de símbolos matemáticos;

  • Falta de foco e concentração;

  • Desinteresse por assuntos escolares.

  • Fala tardia;

  • Aprendizagem lenta de novas palavras;

  • Atraso na aprendizagem da leitura.


Moretto afirma que é normal que os pequenos com características da dislexia na educação infantil se esquivem na hora de fazer a lição de casa, por exemplo. Essa falta de interesse acontece não porque o aluno não quer aprender, mas porque ele não entende o que está sendo ensinado.


Além disso, é importante ficar de olho nos registros da família, pois a dislexia infantil pode ser uma herança genética. Apesar de que algumas décadas atrás, era muito mais difícil identificar casos diagnosticados desse distúrbio de aprendizagem.


As características citadas acima podem estar atreladas também a outros tipos de distúrbios. Sendo assim, é importante que os pais procurem por profissionais que os ajudem a descartar outras possibilidades até chegar no diagnóstico da dislexia.

 

Segundo a fonoaudióloga entrevistada, ao realizar este processo de eliminação, o especialista deve levar em consideração fatores como:


  • O desenvolvimento infantil da criança;

  • Se teve um nascimento saudável;

  • Se não tem algum problema visual;

  • Se não sofreu nenhuma perda durante os primeiros anos de vida, como má nutrição,

  • Se foi marcada por falta de estímulos sensoriais e de carinho. 

Como lidar com a dislexia na educação infantil?

Apesar de ser uma condição comum no Brasil, muitas escolas ainda carecem de estrutura e profissionais capacitados para atender adequadamente alunos com dislexia na educação infantil, especialmente na rede pública de ensino.


Moretto explica que, para que esses estudantes tenham sucesso acadêmico, as instituições precisam estar preparadas. “Os professores devem adaptar o material e todo o contexto pedagógico para a criança.” Isso inclui uma abordagem mais oral nas disciplinas, já que as crianças com dislexia costumam ter mais facilidade em ouvir do que ler.

Quais os tipos de dislexia infantil?

A dislexia infantil pode ser classificada de acordo com o tipo, além de ocorrer em distintos níveis ou graus. De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, são seis categorias possíveis, entenda melhor cada uma delas a seguir:


1 - Adquirida: causada por lesão cerebral após o início da alfabetização, prejudicando a leitura e a escrita.

2 - Superficial: dificuldade com a leitura de palavras irregulares, que não seguem regras ortográficas comuns.

3 - Profunda: afeta a capacidade de entender palavras escritas de forma global, envolvendo múltiplas áreas da leitura.

4 - Fonológica: dificuldade em decodificar fonemas, afetando o reconhecimento de sons das letras.

5 - Visual: problemas na identificação visual das palavras, confundindo letras e formas semelhantes.

6 - Auditiva: dificuldade em associar os sons das palavras à grafia correta, prejudicando a leitura e a escrita.

Quais profissionais podem ajudar a diagnosticar a dislexia?

Para que o transtorno possa ser diagnosticado de maneira assertiva e para que o tratamento seja definido, os responsáveis devem procurar a ajuda de um neurologista. O médico com essa especialidade é o único que pode determinar se a criança realmente tem ou não dislexia infantil


Após diagnosticada, a criança necessitará de acompanhamento profissional, pelo menos nos primeiros anos, de um fonoaudiólogo, psicoterapeuta ou de um terapeuta ocupacional (T.O).

Qual a idade ideal para diagnóstico de dislexia?

De acordo com Moretto, a dislexia infantil é diagnosticada geralmente entre os 8 e 10 anos de idade, fase de pós-alfabetização. Se a criança apresentar dificuldade de leitura ou parecer que ainda está "aprendendo as letras", mesmo após a alfabetização, isso pode ser um sinal de alerta.

No entanto, é importante observar que os sinais podem começar a aparecer antes, na fase pré-escolar, com sintomas como dificuldade em aprender rimas, palavras mal pronunciadas ou persistência de "linguagem de bebê"

Um diagnóstico precoce pode ser crucial para minimizar os impactos da dislexia infantil na vida escolar da criança. A participação ativa dos pais e professores também é fundamental, já que muitos casos têm o fator genético envolvido e o histórico familiar deve ser considerado.

Um diagnóstico antecipado permite que as intervenções pedagógicas e terapêuticas sejam iniciadas o mais rápido possível, garantindo que a criança tenha suporte adequado para superar as dificuldades associadas ao transtorno.

Qual o tratamento para dislexia infantil?

O tratamento da dislexia infantil deve ser iniciado o mais cedo possível, permitindo que as crianças desenvolvam habilidades essenciais para a leitura e escrita. Intervenções precoces são fundamentais e geralmente envolvem um trabalho colaborativo entre educadores, fonoaudiólogos e os pais. 

A fonoaudiologia desempenha um papel crucial ao ajudar as crianças a desenvolverem habilidades fonêmicas, essenciais para a leitura.

Além disso, métodos de ensino multisensoriais podem facilitar o aprendizado, permitindo que as crianças aprendam de forma mais eficaz. Essas abordagens incorporam diferentes sentidos, como visão, audição e tato, ajudando os alunos a conectar sons e símbolos de maneira mais intuitiva.

Por fim, a psicoterapia pode ser benéfica para lidar com questões emocionais, como ansiedade e frustração, que muitas vezes acompanham a dislexia. Com suporte adequado e estratégias personalizadas, as crianças podem superar suas dificuldades e desenvolver uma atitude positiva em relação à aprendizagem.

5 celebridades que tiveram dislexia

Diversas celebridades e cientistas renomados aprenderam a conviver com a dislexia e obtiveram grande sucesso em suas profissões. Veja abaixo 5 famosos que são portadores do transtorno:


1 - Albert Einstein


O famoso físico alemão, ganhador do prêmio Nobel de Física em 1921, enfrentou dificuldades de aprendizado durante sua infância devido à dislexia. Apesar do baixo rendimento escolar, suas contribuições revolucionaram a física moderna, mudando nossa compreensão do universo.

2 - Vincent Van Gogh


Considerado um dos mais célebres pintores de todos os tempos, Van Gogh superou sua dislexia para se tornar um ícone da arte. Suas obras, marcadas por uma expressividade única e cores vibrantes, contribuíram para o nascimento de movimentos como o cubismo e o surrealismo.

3 - Steve Jobs


Fundador da Apple e visionário da tecnologia, Jobs conviveu com a dislexia ao longo de sua vida. Sua capacidade de inovar e transformar a indústria da computação, além de sua busca incessante pela perfeição, o tornaram um dos maiores nomes do setor.

4 - Tom Cruise


Indicado a três Oscars, Tom Cruise enfrentou desafios significativos devido à dislexia, diagnosticada quando tinha apenas 7 anos. Essa dificuldade quase comprometeu sua carreira, mas ele encontrou no Study Technology, um método de aprendizado, a ferramenta que o ajudou a superar as barreiras e se tornar um ator de renome.

5 - Agatha Christie


A renomada escritora britânica, famosa por seus romances policiais, lidou com a dislexia ao longo de sua vida. Christie enfrentou problemas de aprendizado, considerando a escrita e a ortografia como desafios constantes. Contudo, sua paixão pela literatura a levou a se tornar uma das autoras mais vendidas da história.

Os mitos da dislexia

Como vimos, crianças com dislexia possuem mais dificuldade no processo de alfabetização, como por exemplo na leitura e na escrita. Porém, muitas pessoas associam a condição com a falta de QI (Quociente de inteligência). Isso é um mito, além de outras questões como:


  • A dislexia pode ser diagnosticada em qualquer período da vida, não somente na infância;

  • Ao contrário do que muitos pensam, ela não é causada pela falta de leitura;

  • Ela não é uma doença, mas sim uma condição;

  • Nem toda criança que tem dificuldade em ler e escrever tem dislexia.

Quais as atividades que estimulam as crianças com dislexia?

Estimular crianças com dislexia infantil requer atividades que respeitem seu estilo de aprendizagem e promovam o desenvolvimento de habilidades essenciais. Aqui estão algumas sugestões:

Leitura em voz alta: incentivar a leitura em voz alta, utilizando livros com ilustrações vibrantes e textos simples, pode ajudar a melhorar a fluência e a compreensão.

Jogos de palavras: atividades como jogos de rimas, palavras cruzadas e caça-palavras ajudam a familiarizar as crianças com a linguagem de forma lúdica.

Atividades multissensoriais: usar materiais que envolvam diferentes sentidos, como areia, tinta e massa de modelar, pode facilitar o aprendizado de letras e palavras.

Tecnologia assistiva: aplicativos e programas que oferecem suporte à leitura e escrita podem ser muito eficazes, proporcionando uma experiência interativa e personalizada.

Contação de histórias: Contar e ouvir histórias desenvolve a imaginação e a linguagem, promovendo uma conexão emocional com a leitura.

Essas atividades, quando adaptadas às necessidades específicas de cada criança, podem tornar o aprendizado mais eficaz e prazeroso.

Como pudemos ver, a dislexia na educação infantil é mais comum do que parece, porém, é necessário que os pais, a instituição, os professores e profissionais especializados trabalhem em conjunto para garantir que os alunos com dislexia se mantenham motivados e interessados em seguir seus estudos.


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